Quem trabalha na assistência social sabe: o volume de dados, cadastros, visitas, acompanhamentos e relatórios é enorme. E, sem uma boa ferramenta de gestão, fica quase impossível dar conta de tudo — ainda mais com equipes reduzidas e recursos limitados. A boa notícia? Já existem diversos softwares gratuitos sendo utilizados por prefeituras, ONGs e centros comunitários para organizar esse fluxo e tornar o atendimento mais eficaz.
Esses sistemas ajudam desde o cadastro inicial das famílias até o monitoramento de benefícios, passando pela geração de relatórios, alertas e até pelo cruzamento de dados com outras áreas, como saúde e educação. São plataformas que, embora simples, fazem uma diferença gigante no dia a dia de quem está na linha de frente da política social.
Além disso, o uso de softwares gratuitos democratiza o acesso à tecnologia, principalmente em municípios pequenos, que muitas vezes não têm orçamento para contratar grandes soluções privadas. Com um computador básico e internet, já é possível estruturar uma rede de atendimento eficiente — desde que haja vontade de inovar e capacitar a equipe.
Quer conhecer algumas dessas ferramentas? Nos tópicos a seguir, listamos plataformas que já estão sendo usadas com sucesso na gestão assistencial, explicando suas funções, benefícios e limitações. E mostramos como, mesmo sem gastar nada, é possível fazer muito mais — com inteligência, organização e tecnologia acessível.
CadÚnico: o pilar de integração para benefícios assistenciais
O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) é, sem dúvida, a principal base de dados da assistência social no Brasil. Ele não é exatamente um software que você baixa e instala, mas sim uma plataforma digital mantida pelo governo — gratuita e acessível aos gestores municipais — que permite registrar todas as famílias em situação de vulnerabilidade.
Com ele, é possível mapear renda, escolaridade, composição familiar, condições de moradia e outras informações que são essenciais para a concessão de benefícios como o bpc loas. É através do CadÚnico que se define quem está apto a receber o benefício e quem precisa de acompanhamento mais próximo pelas equipes do CRAS.
Além de funcionar como porta de entrada para a maioria dos programas federais, o CadÚnico também pode ser utilizado para políticas locais. Municípios mais organizados usam os dados do sistema para definir ações específicas em bairros mais vulneráveis, organizar mutirões e priorizar famílias em situação de emergência. Ou seja: ele é mais do que um cadastro — é uma ferramenta estratégica.
SIGAS e o acompanhamento individualizado de beneficiários
Em várias cidades, o Sistema de Informação e Gestão da Assistência Social (SIGAS) tem sido adotado como alternativa gratuita para monitorar a evolução dos usuários atendidos. O software permite cadastrar famílias, registrar visitas, lançar atendimentos e acompanhar o histórico de cada caso. Com isso, as equipes ganham mais controle sobre o que já foi feito e o que ainda precisa ser realizado.
Uma das grandes vantagens é poder anexar documentos diretamente no sistema, como cópias de identidade, laudos médicos e comprovantes. Isso facilita a organização e evita perda de informações importantes — algo comum quando tudo é feito no papel ou em planilhas soltas. Para quem precisa reunir quais os documentos necessários para dar entrada no bpc, por exemplo, essa funcionalidade é essencial.
O SIGAS também permite a geração de relatórios automáticos — algo que poupa tempo e melhora a transparência na hora de prestar contas ao município ou ao governo estadual. E, como é um sistema de código aberto, pode ser adaptado de acordo com as necessidades locais. Isso dá mais autonomia às secretarias de assistência, sem depender de fornecedores externos.
Prontuário SUAS: registro padronizado com foco no usuário
O Prontuário SUAS (Sistema Único de Assistência Social) é uma ferramenta desenvolvida pelo Ministério do Desenvolvimento Social, voltada para o registro padronizado do atendimento às famílias. Seu objetivo é permitir que cada usuário tenha um histórico único e completo dentro do sistema — o que facilita a continuidade do acompanhamento, mesmo com mudanças na equipe técnica.
Ele é especialmente útil para o acompanhamento familiar feito pelo PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família), pois permite registrar vulnerabilidades, traçar planos de ação e monitorar avanços. E, ao organizar essas informações de forma centralizada, o Prontuário ajuda a identificar com mais clareza quem pode estar em situação para receber benefícios como os tipos de aposentadoria loas, por exemplo.
Além disso, como se trata de um software gratuito e oficial, sua integração com outras plataformas governamentais é facilitada. O único desafio é que ele exige conexão com a internet e alguma capacitação para ser utilizado corretamente — mas, uma vez implementado, torna o trabalho muito mais eficiente e padronizado.
SISA: gestão simplificada para pequenos municípios
O Sistema Integrado de Serviços da Assistência Social (SISA) é uma solução pensada especialmente para municípios de pequeno porte, com menos estrutura e menor volume de atendimentos. Ele oferece ferramentas básicas para cadastro, acompanhamento, agendamento e emissão de relatórios. Simples, funcional e gratuito.
O SISA pode ser útil, por exemplo, para registrar informações de famílias que ainda não estão no CadÚnico, mas já recebem acompanhamento social. Ele também permite mapear demandas relacionadas à saúde mental, dependência química e outras situações que exigem atenção especial. Isso ajuda a identificar laudos médicos necessários, inclusive os que contenham código cid 10, evitando falhas nos processos de solicitação de benefícios.
Como é voltado para uma realidade mais simples, o SISA é fácil de usar e não exige internet o tempo todo. Os dados podem ser sincronizados posteriormente, quando houver conexão. Isso facilita o uso em áreas rurais ou regiões sem cobertura constante, onde muitas vezes os técnicos sociais fazem o atendimento presencial com notebook em campo.
SISVAN e o cruzamento com dados de segurança alimentar
O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), apesar de ser uma ferramenta originalmente da área da saúde, tem sido cada vez mais usado na assistência social para identificar famílias em risco nutricional. Ele permite registrar dados sobre peso, altura, hábitos alimentares e consumo de alimentos ultraprocessados — tudo isso ajuda a traçar o perfil de vulnerabilidade da comunidade.
Esse tipo de informação pode ser cruzado com os registros assistenciais para priorizar famílias que devem receber cestas básicas, suplementos nutricionais ou acesso prioritário ao benefício de prestação continuada. A integração entre os dados melhora a eficiência da política pública — e garante que a ajuda chegue a quem realmente precisa.
Mesmo sendo um sistema da saúde, o SISVAN é gratuito e acessível para municípios que fazem parte da rede pública. Ele funciona bem como complemento a outros sistemas e amplia a visão do gestor sobre os impactos sociais da pobreza. Um bom uso do SISVAN, junto com CadÚnico e SIGAS, cria uma rede poderosa de proteção social, que vai além do financeiro e olha também para o bem-estar físico e nutricional.
Planilhas compartilhadas e ferramentas na nuvem
Nem todo município tem acesso aos sistemas oficiais — e, em muitos lugares, o que funciona mesmo são planilhas de Excel compartilhadas, Google Forms e drives na nuvem com pastas organizadas por família. Pode parecer improviso, mas quando bem estruturado, esse tipo de solução funciona como um “mini sistema” de gestão assistencial.
Essas ferramentas permitem que equipes remotas compartilhem informações em tempo real, atualizem listas de acompanhamento, registrem atendimentos e até cruzem dados manualmente. O segredo está na organização e na padronização das informações. Um formulário digital bem feito pode ser tão útil quanto um software completo — desde que haja disciplina e comunicação entre os envolvidos.
Além disso, essas ferramentas são gratuitas, não exigem instalação e funcionam em qualquer celular ou computador com internet. Com um pouco de criatividade e capacitação, dá para montar um sistema simples, mas funcional, que atenda bem à realidade local. E, com isso, garantir que ninguém fique de fora da política de assistência por falta de estrutura técnica.